Júlio Pomar
Nov. 10, 2015

Júlio Pomar

"É sempre grato para um artista ver que a sua obra é apetecida"

Por ocasião da realização da serigrafia Um Ar que lhe deu, edição especial de Júlio Pomar enquadrada nos 30 anos do CPS, João Prates, diretor do Centro, conversou com o artista, decano dos grandes mestres do século XX português, no seu Atelier em Lisboa.

 

 

Júlio Pomar esteve na origem da criação da Cooperativa de Gravadores Portugueses, em 1956, que foi o embrião da Obra Gráfica contemporânea e desde então desenvolveu um percurso notável nesta área, explorando todas as técnicas. Teve alguma técnica de eleição que lhe transmitisse maior prazer criativo?
É difícil dizer. Nesse período, à medida que ia experimentando, ia ganhando amor a essa espécie da gravura. Depois quando passei a viver em Paris, o que aconteceu do ponto de vista gráfico foram sobretudo litografias coloridas e serigrafias. Conhecemos melhor estas palavras do que propriamente as coisas técnicas da gravura, onde esta tendência para cores cresceu à medida do desenvolvimento tecnológico.

 

A relevância da sua Obra Gráfica é reforçada pelo catálogo raisonné, em preparação e a sair em breve. Qual tem sido a importância da obra gráfica e do múltiplo na sua caminhada artística?
A obra gráfica foi muito importante para mim, nas suas diferentes modalidades e constitui mesmo uma parte fundamental da minha obra.

 

Pela admiração à sua obra, foi um privilégio para o CPS poder contar com a sua associação aos seus 30 anos, com uma serigrafia muito especial que sintetiza três dos seus processos de eleição, a pintura, o desenho e o objet trouvé. Pode-nos falar sobre esta obra em particular?
Esta obra tem como diferença, em relação à parte mais abundante do trabalho recente, o ter sido criada inteiramente e não ser de maneira nenhuma uma espécie de reproduçãoUtilizando elementos pré-existentes, ela não é uma recriação de qualquer coisa já feita, é o encontro sobre a folha de papel, de elementos que vêm de diferentes direções e esse encontro não existe senão na própria peça.

 

Os jovens são aqueles para quem a obra Gráfica adquire maior sentido. O que gostaria de transmitir aos jovens colecionadores e apreciadores da sua obra?
Bom, é sempre grato para um artista ver que a sua obra é apetecida, desperta curiosidade e interesse, sobretudo depois de andar já há muitos anos nesta via sacra, chamemos-lhe assim.

 

Num mundo voraz e veloz, de mutações constantes e sem espaço à reflexão e contemplação, a Arte é sempre urgente?
Eu acho que é sempre urgente. Ela não existe sem a reflexão e sem pôr as coisas em questão.

 

Digamos que a arte é sempre jovem. De certa maneira, tem que conter sempre o futuro.
Naturalmente, ou então já não é arte.

 

 

Conheci o Atelier de Júlio Pomar nos anos 90 no contexto de uma reportagem para a revista ‘Galeria de Arte’ editada pelo CPS. Logo o entendi como um local de culto, para se falar baixinho, laboratório criativo encantatório e grandioso. Voltei lá mais recentemente, a propósito da edição da serigrafia dos 30 anos CPS e tive este breve, mas inesquecível, diálogo com um dos mais relevantes artistas portugueses da segunda metade do Séc. XX. É bom partilhar.  João Prates