No Centro Português de Serigrafia inaugura no próximo dia 31 de Janeiro, 5ª feira, pelas 18h, uma exposição de obra gráfica do artista alemão Jan Voss (n. 1936) que fez os seus estudos na Academia de Belas Artes de Munique entre 1955 e 1960 e se radicou em Paris. A exposição (17 trabalhos) de xilogravura, litografia, água-forte, água-tinta, ponta seca e serigrafia, representa um percurso que decorreu entre 1984 e a actualidade e documenta a particular visão do mundo do que se tornou e permanece um dos expoentes da figuração narrativa europeia, resposta ao triunfo e à exuberância da Pop americana sua contemporânea. A expressão que surge pela primeira vez no contexto da mostra "Mitologias Quotidianas" apresentada em 1964 no Museu de Arte Moderna de Paris (a segunda versão ocorreria em 1977) acabaria por identificar não uma escola ou um movimento, mas um conjunto de artistas aliás formalmente próximos da Pop Arte, muito politizados e testemunhando as contradições e os dramas da sociedade de consumo. A ligação ao acontecimento e à realidade que Pierre Restany já acentuara em 1960, relativamente aos novos realismos e que dá um sentido a esta tendência, seria posta em destaque na exposição “Figurações Críticas” (1964-1975) que decorreu em 1992 em Lyon e manter-se-ia uma das linhas de força da arte contemporânea. Voss como outros grandes artistas da Figuração Narrativa, Adami, Erró, Klasen, Monory, Seguí, Télémaque ou entre nós René Bertholo permaneceria fiel ao que foi o seu espírito inicial, renovando embora os seus conteúdos e diversificando as suas expressões. De salientar na ocasião desta exposição de obra gráfica e da primeira grande mostra do artista em Portugal a decorrer na Galeria António Prates de Lisboa, a sua ligação ao grupo KWY, objecto de grande exposição comissariada por Margarida Acciaiuoli e apresentada em 2001 no Centro Cultural de Belém, grupo do qual fizeram parte em Paris, entre 1958 e 1968, além do artista búlgaro Christo, os portugueses René Bertholo, Lourdes Castro, Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, Escada e João Vieira. KWY (as três letras que não existem no alfabeto português) simbolizava o desejo de uma viagem que teve o sentido de uma verdadeira aventura poética, permitindo alargar os domínios do espírito e inventar novas expressões estéticas sob o signo da relação escrita imagem. O crítico francês Gérald Gassiot-Talabot, grande promotor da figuração narrativa na década de 60, associa o estilo de Voss à liberdade, ao mistério, ao humor e a “uma impertinência extremamente saborosa” que acham a sua inspiração nos graffiti infantis e na pintura sobre paredes das grandes cidades. Segundo o mesmo crítico o artista pertence a uma estética de “fragmentadores” que apostam na pluralidade, no conceito de série e na relação entre elementos heterogéneos, permitindo uma leitura aberta, oscilando entre o sonho, a realidade e a memória, transcrição de episódios vividos, de actos falhados, de situações idealizadas, de sátiras cruéis e ingénuas. A partir dos anos 70 as figuras deixaram-se ultrapassar por elementos lineares, cada vez mais abstractos. Yves Michaud, autor do prefácio do catálogo da Galeria António Prates define princípios que são comuns à estética que Voss desenvolve na sua obra gráfica: tendência para achar e representar um fio condutor de todas as situações e uma outra para “enquadrar o caos”, arrumando e articulando da forma possível as suas formas, conjugando a “desordem gráfica” e a “desordem colorida” como acontece em Pignon sur Rue o trabalho agora editado para o Centro Português de Serigrafia. Entre os graffiti infantis e aqueles que marcam a estética urbana das cidades do século XXI, evoluem as formas e as cores da obra gráfica de Jan Voss em arabescos incatalogáveis, pedaços de um puzzle que nos devolve não apenas as alegrias mas também as angústias e os sonhos contemporâneos. Maria João Fernandes