Rui Afonso Santos
Jun. 1, 2018

Rui Afonso Santos

Curador Convidado

Curador do Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu do Chiado, em Lisboa, Rui Afonso Santos apresenta-se como nosso Guest Curator, elegendo um conjunto de obras heterogéneo, predominado pela linguagem pop e a nova figuração.

 

Notável Abstraccionista Geométrico sedimentado nos Anos 50, Fernando Lanhas cria linhas diagonais que estabelecem pontos de tensão, ao mesmo tempo que sugerem a expansão para além dos limites físicos do suporte. A cor, numa gama contida de lilases, harmoniza o conjunto, enquanto um jogo de curvas ou circunferências entrecortadas sugere uma harmonia de ordem cosmogónica, numa obra de valor plástico absoluto.

 

Artista absolutamente referencial também, Joaquim Rodrigo iniciou a Nova Figuração na Pintura portuguesa. Criando um método inédito, paracientífico e universal de pintura, Rodrigo recorre a uma paleta rigorosa das cores da térra fértil, acrescida de branco e negro, para criar pictogramas ditados pela memória que estabelecem narrativas de viagens e uma cartografia de memórias. Terceira (Tempo) e Quarta (Memória) Dimensões entrecruzam-se nesta obra, que Rodrigo considerava »certa», e ela é metodicamente extensível à prática de cada um, numa filosofia da Arte que funde o binómio Arte-Vida.

 

Nos Anos 80, ao mesmo tempo que se aboliram as fronteiras artísticas e se abriu o caminho a uma interdisciplinaridade Pós-Moderna, a Pintura expandiu-se para outras áreas, como o desenho, vídeo, fotografia, performance, música, literatura, ilustração, cenografia ou até dança. Membro do Grupo Homeostético, reunindo os artistas visuais Fernando Brito, Pedro Portugal, Pedro Proença e Xana, Manuel João Vieira reparte-se por heterónimos criativos distintos, praticando pintura, desenho, poesia, música, canto, performance, vídeo, fotografia e até prática política anarquizante, num todo NeoDadaísta que, também ele, recorre à fusão do binómio Arte-Vida. Um desenho virtuoso serve de base a composições Neofigurativas de pendor barroquizante, vistas de cidades poéticas e imaginárias onde a árvore é símbolo totémico, com irónicos contrastes, como uma cabeça de burro, que motivam narrativas absurdas.

 

Em Mimi Tavares, pintora, desenhadora, ilistradora, cantora, performer, bailarina e coreógrafa da icónica banda EnaPá 2000, liderada por Manuel Vieira, uma composição de lembrança Pop recorre ironicamente à colagem fragmentada, numa narrativa que denuncia a felicidade prometida pelo consumo, ao mesmo tempo que mitifica o quotidiano.

 

De sabor NeoPop também é a obra de João Galrão, que canibaliza criativamente ícones e autores da Pintura Contemporânea Pop, de Wesselman a Lichtenstein, Peter Blake e Andy Warhol, para unificar estes fragmentos através de cercaduras fluorescentes de sabor neo-psicadélico.

 

A obra de Leonel Moura devolve a imagem fotográfica de ícones da Cultura Portuguesa do Século XX, de Amadeo a Almada e Amália, unificando alta e baixa cultura, prática que expandiu para projectos de Arte Urbana, como tapumes de estaleiros.

 

Óscar Seco sobrepõe, sobre um fundo onde evoluem tanques de guerra e se ergue uma torre-fortaleza biomoórfica, a silhueta de um Tiranossaurus Rex, num teor anti-belicista.

 

Jacques Monory cria o realismo enigmático e brutal de um episódio de Filme ou Romance Negro, em ilusória película fílmica que se fragmenta.

 

Adam James sobrepõe ironicamente um nariz vermelho de clown a um rosto anónimo que fuma, palhaço que somos todos no palco vivencial colectivo.

 

Rui Sousa, por seu turno, expande a ilustração para o domínio serigráfico, dando-nos uma vista da Avenida lisboeta na qual se destaca o icónico Cinema São Jorge, por entre o tráfego e bulício citadino.

Rui Afonso Santos

 

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Rui Afonso Santos

Curador do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Lisboa. Especialista em Design Português e Internacional, pioneiro da disciplina de História do Design em Portugal . Autor da primeira História do Design Português. Autor de centena e meia de títulos em volumes, entre obras individuais e colectivas, e de dezenas de artigos em periódicos, portugueses e estrangeiros. Comissário de uma vintena de exposições de Arte e Design.