Carlos Calvet, José de Guimarães, Noronha da Costa

Mares Imprevistos

Fev. 13, 2007 - Março 17, 2007
CPS Sede

Com o título Mares Imprevistos inaugura no Centro Português de Serigrafia a 13 de Fevereiro, uma exposição que apresenta a obra gráfica de três Mestres da arte do século XX em Portugal, Carlos Calvet, Noronha da Costa e José de Guimarães.

 

A exposição estará patente até 17 de Março de 2007. Carlos Calvet: Oceanos Mentais Carlos Calvet, arquitecto, cineasta, pintor, é na arte moderna portuguesa, uma referência fundamental. O artista nasceu em 1928 em Lisboa. Formou-se em arquitectura pela E.S.B.A.L., o que não o impediu de se dedicar e desde muito cedo à pintura. José Augusto França acentua o construtivismo das suas superfícies compartimentadas e o colorido surdo que "contribui ainda para a definição dum lirismo de teor melancólico". Mas o que realmente nos toca na obra de Calvet é o fulgor dos seus espaços onde irradia uma liberdade há muito perdida e onde a energia e a imensidão da natureza se sobrepõem ao caos ordenado de formas em expansão prefigurando o enigma de outros universos. No decurso dos anos 50, quando se digladiavam tendências mais ou menos opostas: o neo-realismo de cariz político e revolucionário, o surrealismo igualmente revolucionário mas no plano estético e a emergente abstracção, revelada no Salão de 1954, Calvet soube optar pela via de uma perfeita e integral autenticidade, numa "Viagem aos Arcanos da Noite", ou às profundidades abissais do seu inconsciente, até hoje nunca interrompida. Os mares de Carlos Calvet falam-nos de uma solidão paradoxal que deseja o outro e só no outro cumpre o seu destino de amorosa cumplicidade com o mistério do mundo, de uma forma de perscrutar a realidade para melhor sentir o coração irreal que bate no seu seio. O artista, navegador audacioso, "nauta do impossível"conduz os nossos passos nos horizontes marítimos de todos os milagres. O Planeta Guimarães A obra de José de Guimarães (que nasceu em 1939), nas diversas expressões que assume, pintura, a gravura, a escultura, a assemblage é antes de mais uma linguagem, o planeta Guimarães (Gilbert Lascault) o seu reportório de símbolos e de signos vivos invade o quotidiano traduzindo o seu enraizamento numa miscigenação de culturas que o artista assume e considera um objectivo fundamental. A sua arte define-se pelo jogo, um jogo que é a essência mesma da arte. Jogo e metamorfose, libertação das categorias de espaço de tempo, criação de um código de símbolos de referentes múltiplos. A invenção de uma escrita plástica, orienta todo o percurso do artista, que desde os anos 70 e em consequência de uma estadia em África (1967-1974), se inspira nas escritas pictográficas primitivas. Esta linguagem desenvolve-se em séries, cada uma delas integrando elementos novos, segundo uma lógica e uma ordem escondidas, definidas pelo conjunto e deixando sempre vestígios, numa dialéctica assumida entre pintura e escultura. Uma estética da fragmentação está presente na sua pintura dos anos 70 e 80, a esta fragmentação associa-se a valorização das cores primárias e dos planos cromáticos que se sobrepõem por vezes em jogos de transparências, recortando um espaço sem profundidade, que permite destacar a figura humana (e os seus duplos), motivo central da obra do artista. O erotismo, os seus jogos, percorre toda a obra de Guimarães, confere-lhe uma atmosfera que envolve por vezes um certo dramatismo. As intimistas gravuras que hoje apresentamos revelam os processos essenciais da estética do autor, pequenos frisos de um erotismo alimentado pela aventura e o prazer de uma viagem nos oceanos dos segredos e maravilhas de um planeta que nos deslumbra com a sua fauna e a sua flora, com as figuras de uma sensualidade que é o emblema do espírito destas formas traduzindo a sede de conhecimento e a alegria, legado mais profundo da vida. Noronha da Costa: Paisagens da Alma Uma grande exposição de pinturas recentes de Noronha da Costa na Galeria António Prates de Lisboa, chamou de novo a atenção para a importância de um dos mais interessantes percursos da segunda metade do século XX em Portugal. O artista nasceu em 1942 em Lisboa. Pintor, cineasta e arquitecto, é diplomado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Tem vindo a desenvolver uma estética centralizada na problemática da imagem já presente nos seus primeiros trabalhos, colagens em que explorava imagens duplas e ambíguas. Uma incursão na poética de objectos que construíam um espaço indefinido e surrealizante teria continuidade na sua pintura que José Augusto França define como uma "situação neo-romântica que vai às fontes fantasmagóricas do surrealismo (...) e constitui uma "irrealização do real" de profunda consciência moderna". A modernidade de Noronha da Costa está precisamente na sua capacidade de interrogar as aparências, encarando o visível como ponto de partida de uma experiência intelectual, sensível e onírica. Os mares, as paisagens de Noronha da Costa confundem os limites entre visível e invisível, imagem e metáfora, não são nítidos, o que é aqui o mundo resulta de uma repetição, de uma velatura de neblinas que são o rosto do enigma, de uma viagem sempre recomeçada e nunca realizada. Micropaisagens de uma harmonia perdida, cheia de promessas de uma aurora do espírito, pois é da vida do espírito que se trata, o espírito das formas, chama incerta, sol vago e esplendoroso erguendo as suas fulgentes certezas que cintilam no momento que a imagem faz permanecer.