Carlos Calvet

Horizontes Múltiplos

Fev. 18, 2005 - Março 18, 2006
CPS Sede

No Centro Português de Serigrafia estará patente a partir de 18 de Fevereiro, uma exposição de litografias dos anos 50 e 60, serigrafias dos anos 80 à actualidade e fotografias (1956 a 1971) de Carlos Calvet. Ao todo, são cerca de 27 obras que compõem esta exposição, patente até 18 de Março. A inauguração terá lugar no dia 18 de Fevereiro, Sábado, a partir as 16h00 e contará com a presença do artista. Se nas litografias nascem as formas abstractizantes que alimentarão a pintura de Carlos Calvet na sobriedade do branco e do negro que é também a atmosfera das belíssimas fotografias, paisagens e motivos do quotidiano a meio caminho entre o real e o irreal, é na explosão de cor das serigrafias que melhor se afirma o enigma e a sedução do seu universo, sob o signo dos poetas Fernando Pessoa e António Maria Lisboa, pelo artista retratados. A obra de Carlos Calvet, é na arte moderna portuguesa, uma referência fundamental não apenas por constituir um universo de intensa originalidade, marcado por uma dupla vertente onírica e surreal, mas também e sobretudo, por ter vindo a afirmar, como Almada, do qual podemos considerá-lo brilhante discípulo, um pensamento esotérico na linha de uma geometria simbólica, ao qual deu expressão em recente livro. Discípulo de Almada talvez, como este o foi de Matila Ghyka, mas sobretudo Mestre para as futuras gerações que na sua pintura poderão colher simultâneamente uma lição de mestria plástica e uma sabedoria poética alicerçada nos velhos mitos e nos ancestrais segredos da humanidade. No decurso dos anos 50, quando se digladiavam tendências mais ou menos opostas: o neo-realismo de cariz político e revolucionário, o surrealismo igualmente revolucionário mas no plano estético e a emergente abstracção, revelada no Salão de 1954, Calvet soube optar pela via de uma perfeita e integral autenticidade, numa "Viagem aos Arcanos da Noite", ou às profundidades abissais do seu inconsciente, até hoje nunca interrompida. Arquitecto, cineasta, fotógrafo, faz parte de uma plêiade de artistas excepcionais, grandes decifradores e "exploradores de horizontes", cujo expoente é Leonardo da Vinci e que têm procurado dar voz, expressão plástica a mistérios essenciais. Entre o Romantismo, a Pintura Metafísica e o Surrealismo, alimentado por uma modernidade que a Pop disfarçou de fugaz alegria, a pintura de Calvet constrói verdadeiramente um universo, síntese do visível e do invisível, um universo de florações prodigiosas do espírito, de paisagens e de vastos, tenebrosos e solares oceanos mentais, onde embarcamos sem destino certo, seduzidos, como Ulisses, pelo canto de ocultas sereias, convite a um porto da alma, a uma luz inicial e iniciática que toda a grande pintura desvela. Mestre ele também de uma solidão paradoxal que deseja o outro e só no outro cumpre o seu destino de amorosa cumplicidade com o mistério do mundo, o artista aprendeu a perscrutar a realidade para melhor sentir o coração irreal que bate no seu seio, navegador audacioso, "nauta do impossível", ele, seu próprio e melhor exegeta, conduzindo os nossos passos temerosos no horizonte de todos os milagres. Porque a Vida é o território do milagre e de uma exaltação só permitida aos simples e aos poetas.